O Nascimento e a Genealogia de Jesus

No episódio que trata do Nascimento de Jesus e Sua Genealogia, há aparentes contradições, mas que são totalmente explicadas ao se fazer uma análise mais profunda dos textos Bíblicos. As genealogias apresentadas por Mateus e Lucas apresentam algumas dificuldades. Há algumas questões que precisam ser analisadas mais de perto, pois costumam ser usadas por críticos dos Evangelhos, para tentar desqualificá-los:

  1. Há alegações de que Yeshua (Jesus) não seria filho legítimo de José;
  2. A linhagem, na narrativa do Evangelho de Lucas, é passada por meio de Natan, filho de Davi, e não por meio de Salomão (as escrituras estabelecem Salomão);
  3.  A inclusão de Jeconias na linhagem de Jesus, já que ele foi amaldiçoado por Deus;
  4.  O último seguimento de 14 gerações, contém na verdade apenas 13 gerações; e
  5. O verso 11 diz que Josias gerou a Jeconias, o que na verdade não aconteceu.

RESPOSTAS:

Em relação à objeção nº 1 – De acordo com a Lei Judaica, Jesus (Yeshua) seria de fato filho de José, se José assim o aclamasse e o recebesse como filho. E José assim o fez, portanto, pela Lei, Jesus se tornou filho legítimo de José.

Em relação à objeção nº 2 – A genealogia de Jesus, como filho de Davi, no livro de Lucas é passada por meio de Miriam (o nome Hebraico de Maria) enquanto que em Mateus a genealogia é passada por meio de José.
O que está ocorrendo é que Lucas quer mostrar, por meio dos antepassados de Maria (Miriam), que Yeshua (Jesus) é descendente natural (genético) de Davi.

Portanto Lucas não tem a preocupação de seguir os “requisitos legais”, estabelecidos para se provar uma linhagem passada por meio do PAI.

Já Mateus, este sim, preocupado em provar por meios legais a linhagem do Messias, traça detalhadamente a genealogia de Jesus, por meio de Salomão, conforme as escrituras exigiam.

Em relação à objeção nº 3 – A maldição sobre Jeconias foi revertida pelo próprio Deus, de acordo com o texto do Profeta Ageu, capítulo 2:20-23, quando o Eterno escolhe Zorobabel e faz com ele uma Aliança.

Em relação à objeção nº 4 – Houve um erro de transcrição, provavelmente cometido pelo escriba responsável pela tradução do original Hebraico para o Grego, que deixou de fora uma das gerações da genealogia de Jesus. Existe uma versão do Evangelho de Mateus em que não há esse erro de tradução e que mostra essa décima quarta geração.

A versão Hebraica de Mateus chamada de “DuTillet” traz a correção da parte em que se lê “e Abiúde gerou a Eliaquim” Mateus 1:13 – mostrando que na verdade Abiúde gerou a Avner (ou Abner), e depois Avner foi quem gerou a Eliaquim.

A Guematria no Evangelho de Mateus

Mas você, meu amigo estudante das Escrituras, deve estar se perguntando, qual a importância de se ter essas genealogias todas bem explicadas?
Bom, realmente para nós, Brasileiros, em nossa cultura ocidental, talvez não faça muito sentido, ao primeiro olhar, ver essas gerações genealógicas em ordem e agrupadas em 14 gerações cada.

Mas temos que levar em consideração que o autor do Evangelho de Mateus era um Judeu, e como Judeu ele tinha uma forma Judaica de pensar e de transmitir as suas mensagens.
E qual era a mensagem que Mateus queria transmitir, no nascimento de Jesus, com a sua forma Judaica de escrever o texto do seu Evangelho?

Veja que Mateus organizou as gerações de Jesus em três grupos de quatorze gerações. E por que em grupos de 14 gerações? Por causa de uma característica do alfabeto Hebraico, chamada de Guematria.

As letras Hebraicas, assim como os algarismos Romanos, representam letras e números ao mesmo tempo. Então veja que a letra X em Romano também representa o número 10. A letra V em Romano também é o número 5.

Em Hebraico ocorre algo semelhante. Cada letra é uma letra e também possui um valor numérico. Esse valore numérico que as letras Hebraicas recebem é chamado de Guematria.

Assim, voltando para o texto de Mateus, vemos as genealogias agrupadas em número de 14 gerações. E porque catorze? Por causa da guematria do nome do grande rei Davi.

Mateus está falando do nascimento de Jesus e quer provar, por meio das genealogias, que Jesus (Yeshua) é filho do rei Davi e que portanto Ele é o messias, o rei prometido pelo Eterno.

O nome de Davi em Hebraico é escrito com as letras DALET VAV DALET. O valor numérico da letra DALET é igual a 4 (quatro). O valor numérico da letra VAV é 6 (seis). Assim, DALET VAV DALET = 4+6+4 = 14 – daí vem do porquê das gerações estarem organizadas em número de 14, pois o valor numérico do nome do rei Davi é 14.

“De sorte que todas as gerações, desde Abraão até Davi, são catorze gerações; e desde Davi até a deportação para a babilônia, catorze gerações; e desde a deportação para a babilônia até Cristo, catorze gerações.” Mateus 1:17

Em relação à objeção nº 5 – Em 1 Crônicas 3:15-16 é dito que Josias gerou a Jeoiaquim e este último foi quem gerou a Jeconias. Ocorre que nas Escrituras do Antigo Testamento, não é raro citar genealogias de forma incompleta. É algo que vai depender do que o autor tem em mente, do que o autor intenciona provar.

Veja este exemplo abaixo, onde a mesma genealogia é citada em dois livros diferentes da Tanach (o Antigo Testamento):

1 Crônicas 6:4-14 Esdras 7:1-5
Eleazar Eleazar
Finéias Finéias
Abisua Abisua
Buqui Buqui
Uzi Uzi
Zeraías Zeraías
Meraiote Meraiote
Amarias *
Aitube *
Zadoque *
Aimaás *
Azarias *
Joanã *
Azarias Azarias
Amarias Amarias
Aitube Aitube
Zadoque Zadoque
Salum Salum
Hilquias Hilquias
Azarias Azarias
Seraías Seraías
Jeozadaque Esdras

Sobre o autor | Website

ישראל סילבה Casado com Ana Paula Curty, papai da Sarah Curty, cursou hebraico bíblico, geografia da terra de Israel, e o contexto judaico do Novo Testamento, é especialista em estudos da Bíblia Hebraica, certificado pelo Israel Institute of Biblical Studies; e Apocalipsismo judaico, pela Keets alMayim.

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8 Comentários

  1. Edilson disse:

    Parabéns pelo estudo. Em outro estudo seu eu li que Yossef (José) “esposo de Miriam” (Maria) era de fato o pai dela. Sendo que José pai de Maria, tinha o mesmo nome do seu genro José. Eu entendi que Mateus traz então a genealogia de Yeshua (Jesus) por parte de José, pai de maria e não do esposo, completando assim 14 gerações. ” E Jacó gerou a José, PAI de maria, da qual nasceu Jesus…” Mateus 1:16

  2. Gabriel disse:

    Estudo bom para ponta os inicial de pesquisas.
    Se você mencionasse as explicações do Eusébio de Cesaréia a respeito da questão de Yosef (pai do Senhor), teria alcançado ainda maior êxito.
    Uma coisa que eu, particularmente, achei desnecessária no texto, é a todo momento citar os nomes em parênteses. Em um momento foi citado “Jesus (Yeshua)”, e outro “Yeshua (Jesus)”, e vice versa. Talvez definir uma coisa só colocando o parêntese só na primeira vez que relatar os nomes.

  3. Paulo Vinícius disse:

    Shalom, As genealogias de Mateus e Lucas, as duas genealogias eram do mesmo José, pai de Yeshua?

    • Israel Silva disse:

      Ah sim, sei que há discordâncias quanto ao assunto. Há os que defendam que o Yosef do texto era pai de Miriam, pois a palavra do texto em aramaico, da Peshita, é גַּבְרָא “gabra”, que significa guardião. Naturalmente o pai era o guardião de sua filha, em certas situações descritas na lei judaica. Como no último exemplo que deixei no estudo, uma tabela mostrando a diferença na mesma genealogia, quando citada por mais de um livro da própria bíblia hebraica. Então genealogias são difíceis de se lidar, tanto as do AT, quanto do NT. Shalom!

  4. A. Valdez disse:

    Como pesquisador, desejo dar um parecer
    bíblico-científico à questão. Na realidade, as genealogias de Jesus são
    independentes: nem Mateus e nem Lucas conheciam a genealogia de um e de outro.
    É por isso que são contraditórias. Na essência, são criações teológicas e
    sistemáticas. Ou seja, Mateus e Lucas não conheciam a genealogia original de
    Jesus. Criaram artificialmente, ou talvez tenham copiado um pouco de alguma
    genealogia de um evangelho anterior a eles e a reduziram, ou a ampliaram, e a modificaram conforme
    seus objetivos teológicos. A artificialidade é bem nítida pelos números
    simbólicos: em Mateus é 14 e em Lucas é 7. Mateus deseja somar 42 gerações e
    Lucas deseja somar 77 filiações. Este último é o mais interessante: nele existem um
    grupo inicial de 7 nomes, mais outros 70 nomes sucessivos, dentro dos quais
    encontra-se um grupo de 40 nomes de antepassados desconhecidos, separados no centro
    por Salatiel e Zorobabel. Todos os nomes desconhecidos são criações de Lucas e
    estão organizados conforme letras iniciais de cada nome, seguindo um sistema
    simbólico-numérico. Se você permitir, lhe darei o endereço na WEB de dois artigos meus, publicados na “Revista Bíblica”, Buenos Aires, Argentina, que tratam profundamente sobre o assunto. Um abraço.

    • Israel Silva disse:

      Qual é a sua fonte científica? Post de blog? Qual pesquisador?

      • A. Valdez disse:

        Minha pesquisa abrangeu várias publicações de autores renomados. No entanto, a minha análise, que lhe explanei resumidamente, é inédita. Para você ler os meus artigos, indico os seguintes endereços: “As Genealogias de Jesus” e “As Genealogias de Jesus: uma complementação. Estou à disposição para mais esclarecimentos.

        • Israel Silva disse:

          Desculpe, mas as suas teses são mais do mesmo, já foram tão debatidas e respondidas… Você conhece o Hebraico e o Aramaico? Conhece a cultura dos Rabinos? Conhece os 4 níveis de interpretação dos textos Hebraicos? Conhece as 13 regras de Hillel?

          Amigo, agradeço a sua participação, mas seu texto está cheio de PODERIA, NÃO PODERIA, e conclusões semelhantes, ou seja é Opinião. Claro você tem todo o direito de ter a sua opinião, não é essa a crítica, o que quero dizer é que já li e estudei teses como essas e encontrei respostas para todas.

          Esse artigo que publiquei não aborda todas as suas questões, porque não achei relevante publicar, uma vez que quem realmente questiona a genealogia de Jesus, ou Yeshua, como queira, são os Judeus Ortodoxos, que não leem esse blog. Então, apenas pincelei algumas coisas, mas já estudei muito o assunto, principalmente na congregação dos Judeus Nazarenos.

          Mas agradeço o seu comentário, espero que compreenda a minha posição. Não vou poder continuar o debate pois estou gravando aulas de Hebraico. Shalom!